Iran Giusti
Estreando na próxima quinta-feira (10), longa traz história de um adolescente cego vivendo o seu primeiro amor gayAté a poucas semanas era impossível saber o que esperar do longa “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, baseado em um curta metragem de 2010. Ficavam as dúvidas: seria uma sequência? Uma versão estendida? Mas a expectativa tem data para acabar, mais precisamente na próxima quinta-feira (10), quando o filme estreia em território nacional.
Na trama, Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego vive às voltas da amiga Giovana (Tess Amorim), enquanto busca sua independência, como qualquer jovem na faixa dos 15 anos. Tudo muda na vida da dupla com a chegada de Gabriel (Fábio Audi), um novo aluno da escola em que os dois estudam.
Colocar Leo, Giovanna e Gabriel em situações comuns a maioria dos jovens, independente de suas orientações sexuais ou limitações físicas, é talvez o maior mérito do diretor Daniel Ribeiro, que de forma delicada, fala sobre primeiro amor, primeiro beijo, relações de amizade e atritos familiares.
Embalados por uma trilha que vai de Beethoven a Belle & Sebastian - a canção “There's Too Much Love” tem papel fundamental na trama - o trio amadurece na uma hora e meia de filme, tanto nas atuações dos atores quanto no desenvolver dos personagens. Leonardo em relação a sua família, Giovana em seus conflitos amorosos e Gabriel em sua sexualidade.
DESCOBERTAS
Enquanto os premiados “Tatuagem” e “Azul é a Cor Mais Quente” foram destaque em 2013 por trazer uma homossexualidade efervescente, 2014 é o ano em que ela ganha toques de descoberta.
Em “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, Leonardo parece não ter problemas em aceitar sua orientação sexual, colocada de forma natural, como deve ser sempre. Gabriel, no entanto, nos lembra que este nem sempre é um processo simples, relutando um tanto para se assumir.
No meio dos meninos, costurando a relação, está Giovana, que encontra em Tess Amorim uma interprete mais que eficiente. A jovem contida e delicada é responsável pelas cenas mais cotidianas, equilibrando a apresentação mais poética do casal.
MOMENTOS INESQUECÍVEIS
Premiado como melhor filme nos festivais de cinema de Berlim (pela crítica) e de Guadalajara (pelo público), além de abocanhar o Teddy Bear, premio dado ao melhor longa com temática ou personagens gays em Berlim, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” preza por cenas emblemáticas.
A primeira delas é sem dúvida a cena em que Leo se masturba, sem apelo e sem discriminação. O momento é intimo e bonito, assim como o passeio de bicicleta do jovem com Guilherme ao som do cantor carioca Cicero.
Tess ganha destaque durante um porre em uma festa com um diálogo preciso e de beleza impar. Aliás, estes dois adjetivos poderiam ser usados para descrever o filme como um todo, assim como imperdível.