Iran Giusti
Na semana do Dia dos Namorados, o iGay revela histórias de homossexuais que têm parceiros que gostam de se montar e de abarrotar o guarda-roupa do casal com figurinos femininosO educador Deco Ribeiro, 42, é um coadjuvante assumido no closet que ele divide com o marido, o estilista Chesller Moreira, 32. O ambiente de 4 metros de extensão, que fica na casa deles na cidade de Campinas (SP), é ocupado majoritariamente por Chesller. O motivo para essa desigualdade toda na divisão do espaço tem nome e sobrenome: Lohren Beauty.
Esse é o nome da drag queen que Chesller interpreta em festas e eventos. Fã do trabalho artístico do marido, Deco aceita com entusiasmo que os figurinos de Lohren ocupem 70% do guarda-roupa do casal. Aliás, foi o educador que incentivou o parceiro a se montar com mais frequência.
Na pele da drag Rita Von Hunty, Guilherme Terreri ao lado do namorado Fernando Levy de Oliveira
Foto: Amanda Rigamonti
Vivendo sob o mesmo teto há três meses, os dois têm um ano de namoro
Foto: Arquivo pessoal
Guilherme (de xadrez): 'Ele é o amor da minha vida. Encontrá-lo me fez ver que amor existe. Nossa história é bem conto de fadas'
Foto: Arquivo pessoal
Para apoiar o namorado/drag, Fernando começou a se fantasiar para as apresentações
Foto: Arquivo pessoal
A ideia surgiu pelo fato de Fernando ser muito caseiro e não gostar muito de baladas
Foto: Arquivo pessoal
Deco Ribeiro é o maior incentivador do marido Chesller Moreira, que na noite é a Lohren Beauty
Foto: Arquivo pessoal
Deco aceita com entusiasmo que os figurinos de Lohren ocupem 70% do guarda-roupa do casal
Foto: Arquivo pessoal
Chesller inclusive se casou montado como a drag Lohren Beauty, com um vestido feito por ele mesmo
Foto: Arquivo pessoal
Politizada, Lohren Beauty chegou a conhecer o então presidente Lula
Foto: Arquivo pessoal
Deco e Chesller comandam a Escola Jovem LGBT de Campinas
Foto: Arquivo pessoal
“Queríamos ensinar quem tivesse esse desejo”, explica Deco
Foto: Arquivo pessoal
Há dez anos, no início do namoro deles, Deco descobriu esse lado performático do parceiro ao encontrar uma foto do estilista vestido de drag. “Na hora, perguntei por que ele não se montava mais e se não tinha vontade de voltar a se montar. Pouco tempo depois, fomos a uma festa de Halloween e ele decidiu ir como Lohren”, conta o educador.
Deste trabalho artístico veio a ideia de criar uma Escola LGBT em Campinas para jovens que sonham em se tornar uma drag queen, da qual Deco é diretor. “Queríamos ensinar quem tivesse esse desejo”, conta o educador, que fundou a instituição com o parceiro, em 2010. Como não poderia deixar de ser, Chesller foi o escolhido para dar as aulas.
O educador não vê nenhum problema no fato de namorar um parceiro que atua como drag queen. No entanto, ele reconhece que em certas horas todas as atenções se voltam para Lohren. “Tento dar espaço, porque muitas pessoas pedem para tira fotos quando ele está montado”, admite Deco.
Chesller, por sua vez, garante que a produção de drag não atrapalha os dois nem na hora do namoro. “Pode tudo. Até porque minha maquiagem não sai. A gente pode se beijar, fazer de tudo que ela permanece intacta”, brinca o estilista, que fez questão de subir ao altar montado como Lohren.
Para arrasar no momento especial, Lohren costurou com suas próprias mãos dois vestidos à altura da ocasião. Brancos como manda a tradição, eles foram usados no casamento civil e no religioso, realizado num igreja cristã inclusiva. “Imagina se ele ia perder a chance de se montar”, provoca Deco.
CONTO DE FADAS DE FERNANDO, GUI E RITA
O radialista Fernando Levy de Oliveira, 25, vive uma experiência semelhante à de Deco. Ele é casado com o professor Guilherme Terreri, 22, que dá vida a drag queen Rita Von Hunty. Levy gosta tanto deste lado performático do amado que acabou entrando na brincadeira.
“Um dia, quando ele ia viajar para fazer umas apresentações, pensamos que seria legal irmos montados como casal. Na primeira vez, eu fui como sapo Caco e ele de Miss Piggy”, relata o radialista. Desde então, eles interpretaram outras duplas, como Adão e Eva e índia e cacique, entre outros personagens.
Fernando, que não era muito das baladas, acabou gostando dessa parceria de montação. “Eu sou uma pessoa de alma velha, bem caseiro. Acabou virando uma forma de me animar e acompanhá-lo. Eu vou, curto e dou muita risada. Fui conhecendo um universo do qual não sabia nada”, explica o radialista.
Guilherme faz questão de reconhecer apoio dado pelo parceiro. “Ele é o amor da minha vida. Encontrá-lo me fez ver que amor existe. Nossa história é bem conto de fadas”, se derrete o professor, que revelou seu lado artístico ao parceiro durante uma festa.
“A gente se conheceu em uma cafeteria e viramos amigos. Depois, quando já estávamos juntos, ele me chamou para uma festa e chegou de Rita. Foi um susto. Mas respeito muito o trabalho dele. Ele é um verdadeiro artista”, elogia Fernando.
O professor ressalta que a vida deles não é muito diferentes da dos outros casais. O Guilherme não usa salto e batom em casa. A Rita é uma personagem artística, alguém que surge duas, três vezes por mês”, esclarece Fernando, admitindo, no entanto, que se confude com essa 'dupla personalidade'. "Um dia desses, numa balada, acabei o chamando de Gui. De drag, ele olhou e me perguntou: 'Quem?.'"
Numa declaração do seu amor ao parceiro, Guilherme diz que a chegada de Fernando mudou completamente suas expectativas. “Por conta do machismo e da misoginia, a minha impressão era que eu estava abrindo mão de ter um vida amorosa por ser um homem gay que assume um papel feminino como trabalho artístico. Mas o tempo mostrou que há muitos caras que rompem essa barreiras de gênero , que estão dispostos a me ver além dos cílios postiços e da peruca."