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Peça“Ou Você Poderia Me Beijar” mostra os 60 anos de amor de dois homens

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Iran Giusti

Sucesso de público e crítica em São Paulo, espetáculo mostra com beleza e engenhosidade seis atores vivendo as diferentes fases da vida de um casal gay da juventude à velhice

Assistir “Ou Você Poderia Me Beijar” é uma experiência única. Em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental, no bairro da Barra Funda, em São Paulo, a peça conta a história de amor de um casal gay da África do Sul ao longo de 60 anos, desde o início da relação na juventude de ambos à velhice. A direção de Zé Henrique de Paula resulta em ótimos desempenhos das três duplas de atores que encarnam os dois protagonistas e também de Clara Carvalho, que faz todos os papéis femininos do espetáculo.

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Do inglês Neil Berttet, o texto ligeiramente autobiográfico foi originalmente representando com bonecos pela trupe sul-africana Handspring Puppet Company.

Os personagens que formam o casal da peça não têm nomes, são apenas chamados de A e B. Os atores Thiago Carrera e Felipe Ramos interpretam os dois homens quando jovens. A meia-idade deles fica a cargo Marco Antônio Pâmio e Rodrigo Caetano. Cláudio Curi e Roney Facchini os interpretam no final da vida.

Não linear, a trama de “Ou Você Poderia Me Beijar” alterna engenhosamente as três fases do casal. Em alguns momentos, os três duplas de atores ocupam o palco simultaneamente. Assim, os parceiros assistem e comentam os acontecimentos de seu passado e do presente.

A política segregação racial que África do Sul viveu durante décadas, o apartheid, aparece sutilmente. Nos anos 70, quando o A e B se conhecem, ser gay publicamente era um risco. Quando eles completam 60 anos juntos, o fantasma que os assombra é a morte.

Thiago Carrera e Felipe Ramos interpretam as cenas mais quentes do espetáculo, com o primeiro beijo e com a primeira transa de A e B. Aparecendo de sunga em sua primeira cena, Ramos celebra a possibilidade de representar uma profunda história de amor.

“O texto coincidiu com um momento muito precioso da minha vida pessoal. Estou muito apaixonado, querendo me casar. Como a peça fala muito de amor, aceitei participar logo de cara”, revela Ramos, feliz também por dar representatividade à comunidade gay. “Foi estimulante falar sobre o tema homossexualidade num momento em que vemos casos de agressões e homofobia. Em alguns ensaios, ficamos sabendo de jovens que morreram ali perto de onde ensaiávamos. A peça não levanta bandeira, mas fala sobre dar a cara a tapa e amar quem você quiser.”

Com uma namorada atriz, Ramos diz que não teve problemas em casa com as cenas de sexo. “Ela adora, fala para eu pegar mesmo o Thiago. Durante os ensaios, ela me apoiava quando eu chegava mal por conta dos temas pesados da peça, como violência, aceitação e morte. Como é acima de tudo uma história de amor, sempre penso nela quando começa.”

Experiência no universo gay

Na história da TV por interpretar um dos primeiros personagens gays da TV na novela global “Roda de Fogo” (1986), Cláudio Curi interpreta o seu terceiro papel homossexual. O segundo foi na peça “Amor, Coragem e Compaixão”, em 2003.

“Na novela, eu era um mordomo que tinha um caso com o personagem do Cecil Thiré, mas era tudo muito velado”, lembra Curi, revelando ainda os problemas que a produção da peça de 2003 enfrentou. “Tivemos muita dificuldade, não tínhamos patrocínio e pouco apoio por conta da temática”, relata o ator.

Com dois personagens gays anteriores, Marco Antônio Pâmio também relata percalços. “Foi muito difícil fazer “Pobre Super Homem” (2000), meu cartão de crédito que o diga. Era muito particular, falava sobre a Aids e tinha cinco personagens, um transexual, um hétero e três gays. Apesar dos pesares, foi um sucesso e ficamos dois anos em cartaz”, descreve Pâmio.

Por outro lado, Roney Facchini acrescenta que atualmente os obstáculos para montar um espetáculo não acontecem apenas com os textos com temas tidos como áridos. “Não existe interesse em patrocínio para o que não é musical. Não desmerecendo esse mercado, que está cada vez mais sólido. Mas é difícil para gente que faz o teatro tradicional”, lamenta o ator, que viveu cabeleireiro gay na série “Macho Man” (TV Globo), em 2011.

Mesmo com estas dificuldades, os atores concordam que o teatro é muito mais aberto à temática homoafetiva que a TV, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. “A televisão no Brasil é ainda é muito conservadora. Vemos a tema gay nas séries americanas e no cinema. No teatro, por exemplo, “Bent”, chegou aqui no Brasil na década de 80 e já tinha beijo. Quem evita isso e mesmo a televisão”, avalia Pâmio.

Com quase três décadas nos palcos, a sempre talentosa Clara Carvalho não dúvida nem um segundo da força do lugar que escolheu para trabalhar. “O teatro nunca vai deixar de existir, mesmo a gente tendo que lidar com o trânsito, a violência, o Netflix. O teatro é o entretenimento puro. É você estar naquele mesmo espaço com uma pessoa, não tem como se substituir.”

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Serviço:
Teatro do Núcleo Experimental
Até 27/04/2014 - Sex e sáb às 21h, dom às 19h
Rua Barra Funda, 637 - Barra Funda
www.nucleoexperimental.com.br



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