Ana Ribeiro
É um fenômeno que se repete: encontre onde estão os gays e descubra a vizinhança que, se ainda não for a mais atraente da cidade, está a caminho de se tornar. Veja onde e como vivem os gays em Nova York, Washington, Londres e São PauloA parada gay de Nova York é uma das maiores do mundo e o bairro de Hell's Kitchen é o novo point LGBT da metrópole
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Porto de Nova York, nos Estados Unidos: a cidade atrai milhares de gays todos os anos por sua diversidade
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Este estúdio de 41m² em Hell's Kitchen, Nova York, custa cerca de US$ 670 mil
Foto: Reprodução
Este estúdio de 41m² em Hell's Kitchen, Nova York, custa cerca de US$ 670 mil
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Avenida Paulista, em São Paulo: a capital paulista é a cidade mais cosmopolita do País e abriga gays de todos os estilos
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A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é também uma das maiores do mundo
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Com 34m², o estúdio VIP Augusta está na junção entre os bairros mais badalados e gays de São Paulo
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Com 34m², o estúdio VIP Augusta está na junção entre os bairros mais badalados e gays de São Paulo
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Os bairros de Logan Circle e Shaw, em Washington (EUA), são os que concentram mais LGBTs na cidade
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Este apartamento em Logan Circle, em Washington, tem o preço de US$ 440 mil
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Este apartamento em Logan Circle, em Washington, tem o preço de US$ 440 mil
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Com imigrantes de todas as partes do mundo, Londres é uma das cidades que mais aceita a diversidade sexual no mundo
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A Parada Gay da capital inglesa atrai milhares de pessoas e acontece no Soho
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Com 26m², este estúdio fica no coração do Soho, o bairro mais gay de Londres, e custa cerca de R$ 2 milhões
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Com 26m², este estúdio fica no coração do Soho, o bairro mais gay de Londres, e custa cerca de R$ 2 milhões
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Não imaginamos que, só porque são charmosos e têm bom gosto, os gays valorizem os endereços onde preferem morar. Mais provável que por ser novidadeiros e ousados, sejam pioneiros em se aventurar em vizinhanças alternativas, meio decadentes ou que enfrentem problemas sociais.
Com a habitação e consequente revitalização da região, estes bairros ficam valorizados e atraem novos investimentos, se tornando o novo objeto de desejo de quem quer viver num lugar charmoso e agitado. Experiências como essa repetidas por várias grandes cidades do mundo confirmam: os gays podem ser considerados lançadores de tendências imobiliárias e de estilo de vida.
Pode parecer pretenciosa essa premissa, mas nossa volta pelo mundo em cinco cidades mostra que se você seguir os gays vai chegar a um lugar que vale a pena conhecer. É onde vai ter lojas divertidas, vida noturna, bares da moda, gente na rua.
Conversando com pessoas que vivem nestas cidades e frequentam estes lugares, descobrimos por onde andam e como vivem os gays de Nova York, Washington, Londres e São Paulo.
NOVA YORK
Quem nos deu o mapa de Nova York foi o DJ brasileiro StopMe, que vive em Hell´s Kitchen. O próprio nome do bairro mais disputado pelos modernos de Nova York mostra sua origem: cozinha do inferno. A reputação sinistra desta região que um dia acolheu a mão de obra irlandesa manteve os preços dos imóveis abaixo da maioria das outras áreas de Manhattan até o começo da década de 1990.
A proximidade da Broadway e da escola de teatro Actor´s Studio influenciou para que o bairro fosse habitado por atores e estudantes de artes dramáticas. Levantamento feito em abril de 2014 mostra que o valor dos aluguéis ali está acima da média de Manhattan. Hoje atores iniciantes e estudantes não conseguem mais morar lá, nem nos apartamentos pequenininhos, que são regra geral.
"Atualmente Hell's Kitchen é o bairro do momento, mas também há uma grande concentração gay no Chelsea", diz o DJ. Segundo ele, o estilo dos bairros não é muito definido. "Você vai encontrar um enorme arranha-céu ao lado de um prédio construído antes da 2ª Guerra Mundial. Uma regra que não muda, indiferente do prédio, é que os apartamentos são bem pequenos comparados ao estilo brasileiro. Máquina de lavar louça, máquina de lavar roupas e prédio com elevador e porteiro são considerados luxo em NYC."
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"Os pontos de encontro variam de acordo com a estação. Durante o verÃo tem o parque no West River, que é conhecido como a praia gay de NY, ou Fire Island, uma ilha que fica a 2 horas de distância da cidade. No inverno, o encontro se dá nos bares mais descolados. Uma outra opção para conhecer gente é ingressar em alguma liga esportiva gay", explica StopMe. Para se engajar nas conversar com gays mais militantes da causa, se informe sobre a queda do DOMA, a lei de defesa do casamento gay (Defense of Marriage Act). "Hoje em dia o debate está sendo a evolução dos Estados no reconhecimento do casamento igualitário", diz o DJ. Neste momento, o casamento é válido em 31 dos 50 estados americanos.
Roteiro indicado: "Adoro o The Eagle, bar democrático que tem uma área externa ampla (coisa rara por aqui). Pra dançar tem a festa Viva, que acontece todo sábado, ou um tour pelos bares de Hell's Kitchen ou East Village. Durante o verão não tem nada melhor do que um fim de semana em Fire Island. Aliás, todo gay em Nova York tem Grindr, carteirinha de alguma academia, amigos de nacionalidades diferentes e uma forma de passar ao menos um fim de semana em Fire Island."
Para conhecer um gay interessante: "A regra geral é ter um corpo em forma (de acordo com o grupo que te interessa) e um look original. Para conhecer um gay descolado, vá ao bar Industry. Gay alternativo/universitário, vá ao Phoenix. Galera mais indie tem no Metropolitan. Se estiver procurando ursos, vá ao Eagle. Para um grupo mais velho vá ao Stonewall Inn. Pode andar de mãos dadas e beijar na rua. Nova York é uma cidade que preza pela diversidade."
WASHINGTON
Como diplomata, o brasileiro Alexandre Porto já morou em diversas cidades do mundo, inclusive Washington. Para ele, a tendência de bairros que concentram gays está acabando, pois antigamente os homossexuais viviam juntos para se sentirem protegidos e parte de uma comunidade, mas nas metrópoles isso já não é mais necessário. Os gays estão mais espalhados e incorporados na sociedade.
É bem possível que essa mudança esteja em curso, porém, mesmo em Washington, ainda existem dois bairros em que os LGBTs acabam circulando mais para sair, encontrar os amigos e ter o seu próprio apartamento perto de toda a movimentação: Logan Circle e Shaw.
O primeiro é um bairro de arquitetura vitoriana, inspirado nas capitais europeias do século XIX, mas que, de acordo com o brasileiro Raul, morador de Washington, tem muitos apartamentos novos à disposição, diferentemente de Shaw, bairro composto por casas mais antigas. "Ambos os lugares eram barra-pesada até o início dos anos 2000, mas hoje estão totalmente gentrificados. Algo que dá para destacar é qie os gays identificam antes quais bairros vão bombar ou não ligam muito para áreas 'difíceis', seja por causa de drogas, situação financeira ou de prostuituição", conta.
Para quem optar em ficar por Logan Circle, a pedida para curtir a noite LGBT é o bar "Number 9" - uma mistura de lounge, bar e balada em um único local, com ótimos drinks. Já para se aventurar em Shaw, a dica de Raul é o bar "Nellie's", principalmente se você for um fã de esportes. Outro lugar do bairro que vale a pena conferir é o bar "Dacha", com uma cartela enorme de cervejas nacionais e internacionais e uma ampla área aberta.
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Em relação à segurança, tanto Alexandre Porto quanto Raul contam que a cidade não é um lugar perigoso para os homossexuais, muito pelo contrário. "Casais andam de mãos dadas numa boa, meninos e moças, mas ninguém beija, nem nos bares", diz Raul. Isso porque a cultura da cidade já é mais conservadora para demonstrações de afeto em público, seja gay ou hetero.
LONDRES
Se fosse para definir a capital britânica em uma palavra, com certeza seria 'diversidade'. Com imigrantes de todas as partes do mundo escolhendo Londres como seu novo lar, a mistura de culturas é tão grande que fica quase impossível não se apaixonar pela cidade, ainda mais se você for gay.
Berço de diversos movimentos jovens e arrojados, como o Punk, a cidade tem como característica um espírito de vanguarda e sem preconceitos. Nas calçadas da rua mais movimentada, a Oxford Street, é possível encontrar desde as pessoas mais clássicas, vestindo terno e gravata, até o gótico mais dark, com inúmeros piercings e tatuagens, dividindo o mesmo espaço sem qualquer problema.
Por consequência, gays dos mais variados estilos estão em diversos lugares de Londres, mas, como na maioria das grandes cidades, ainda há resquícios da segregação e alguns bairros apresentam uma maior concentração de moradores e frequentadores LGBTs.
O bairro mais famoso e com atrações LGBTs para todos os gostos é, sem dúvida, o Soho, área super movimentada da região central de Londres e que tem desde bares e baladas até livrarias voltadas para o público gay. A última coisa que um morador desse bairro vai precisar é de um carro, já que toda a região é bem servida por diversas linhas de ônibus - inclusive durante a madrugada - e metrô, que tem previsão de funcionar 24 horas por dia a partir de setembro do próximo ano. Isso compensa o preço alto que provavelmente irá pagar pela moradia naquele local, que normalmente são apartamentos de um a dois quartos pequenos em prédios antigos de até quatro andares.
Outro bairro bastante frequentado pelos gays é Shoreditch - região mais alternativa da cidade, com inúmeras lojas de vinil e roupas vintage para a alegria de qualquer hipster moderninho. Uma boa pedida é a feira que acontece todos os finais de semana em Brick Lane, com comida de rua, lojas de roupa de jovens estilistas e muitas, mas muitas peças de antiguidade.
A moradia nesse bairro é um pouco mais em conta se comparada com Soho, mas ainda assim é salgada. Além dos micro-apartamentos, é possível encontrar casas grandes no estilo vitoriano nas ruas mais calmas. No entanto, por causa do preço do aluguel, é comum que essas casas sejam divididas por pelo menos 3 pessoas.
SÃO PAULO
Entre as capitais brasileiras, não há cidade mais cosmopolita do que São Paulo. Além de grande no tamanho e no contingente, ela é uma mistura de todas as regiões do País - cada uma com seus costumes e cultura. Por isso mesmo, a gama de opções de entretenimento LGBT também é extremamente variada, mas a maioria tem uma coisa em comum: a localização.
Para a paulistana Clarissa Meneses, de 28 anos, ter se mudado para uma travessa da Rua Augusta foi a melhor decisão de sua vida. "Eu estou na junção dos bairros mais gays da cidade: Consolação, Cerqueira César, Jardins e Centro. E todos eles têm opções tão diferentes de lazer. Tem lugar para rico, pobre, alternativo, conservador, hippie, roqueiro. A única coisa que não tem é falta de opção", conta ela.
Por serem tão diferentes, os estilos e faixa de preço das moradias nessas regiões também variam bastante. No Centro e Consolação é possível encontrar desde apartamentos mais antigos e amplos até estúdios novos e menores por um preço acessível, como no no Cerqueira César. Já no bairro Jardins, mais sofisticado, os preços são mais altos e é possível encontrar apartamentos.
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"Morando aqui na Augusta eu consigo aproveitar um pouco de cada bairro sem precisar me deslocar muito. A balada que eu mais gosto aqui perto com certeza é A'Lôca, um dos lugares gays mais tradicionais de São Paulo", recomenda Clarissa.
Segundo ela, ainda que os índices de ataques homofóbicos na capital paulista sejam mais altos do que nas outras grandes cidades citadas acima, a região é bastante gay friendly quando comparada com outras partes da cidade ou mesmo do País.
"Acho que no Brasil a luta pelos direitos LGBTs está no começo ainda. As pessoas começaram a se conscientizar de que é preciso um ativismo mais forte não tem muito tempo. E o paulistano não é um povo que gosta de ser visto como atrasado. Não tem um dia em que eu não veja um casal gay de mãos dadas andando tranquilamente aqui pelo bairro", conta.
