Ana Ribeiro
A fala é da tricampeã mundial de surf Cori Schumacher no documentário "Out in the line-up", do australiano Thomas Castets, que mostra como um site tirou os surfistas gays do isolamentoThomas Castets buscava gay e surf na internet e só encontrava pornô de baixa qualidade
Foto: Reprodução
Então ele fundou o site GaySurfers.net e lançou a pergunta: tem algum surfista gay por aí?
Foto: Reprodução
O primeiro a responder foi o também australiano David Wakefield, ex-campeão estadual de surf
Foto: Reprodução
Eles combinaram de surfar juntos em Byron Bay, onde Dave morava
Foto: Reprodução
David era um cidadão exemplar: tinha dois empregos, tocava piano na igreja
Foto: Reprodução
Surfava sempre com a mesma turma de amigos hetero
Foto: Reprodução
E não dizia para ninguém que era gay
Foto: Reprodução
Enquanto isso o GaySurfers foi adquirindo vida própria, proporcionando encontros de surfistas gays
Foto: Reprodução
E reunindo turmas de surfistas que vinham de todo canto
Foto: Reprodução
Riley Herman é americano
Foto: Reprodução
Jesse Jimenez é mexicano
Foto: Reprodução
Devid Wakefield e o mexicano Jesse Jimenez ficaram muito amigos e viajam para surfar juntos
Foto: Reprodução
Franco Vargas, de 23 anos, era um surfista gay ilhado no Equador. "Nunca conheci no meu país um surfista gay"
Foto: Reprodução
"Isso é muito gay!" Kate Hoffacher conta que a palavra gay é usada como adjetivo no mundo do surf, com significado que não tem nada a ver com sexualidade
Foto: Reprodução
Krista Coppedge: "Quando eu me assumi, minha mãe me contou que um primo havia cometido suicídio porque era gay e não foi aceito. Então ela disse que me amava de qualquer jeito"
Foto: Reprodução
Christine Jozitis: "Sempre surfei com pessoas hetero, e só falávamos de surf e mais nada. É bom ter com quem conversar sobre a vida também"
Foto: Reprodução
Christine Jozitis
Foto: Reprodução
Christine Jozitis
Foto: Reprodução
Quando a turma já tinha tamanho considerável, Thomas deu a ideia de todos desfilarem na parada gay de Sydney
Foto: Reprodução
Para ocupar o seu espaço visível como surfistas gays
Foto: Reprodução
David, que não era assumido, ficou em crise, até decidir participar
Foto: Reprodução
Ele foi entrevistado pela televisão
Foto: Reprodução
E no dia seguinte estava na primeira página do jornal Morning Herald
Foto: Reprodução
Jim Ready, fotógrafo de surfe: "Meu apelido era Gay Jim, pelas minhas costas, claro"
Foto: Reprodução
Um dia, disputando o mesmo espaço no mar, um surfista disse: "Ei, seu gay de merda! Vai chupar pau", e Jim o atacou e o cara terminou com três pontos acima do olho
Foto: Reprodução
Jim é casado com o ex-deputado Barney Frank
Foto: Reprodução
Cena do casamento mostrada no documentário "Out in the Line-Up"
Foto: Reprodução
David e Cori Schumacher, americana, três vezes campeã mundial
Foto: Reprodução
Cori Schumacher
Foto: Reprodução
Cori Schumacher no dia do seu casamento com a também surfista Maria
Foto: Reprodução
Jonathan Louie: "Os surfistas gays existem muito antes do GaySurfers.net, mas agora somos mais fortes"
Foto: Reprodução
Miguel Libarnes, artista
Foto: Reprodução
Matt "Branno" Branson é um surfista gay radical: tatuado, roqueiro, tem mais cara de motoqueiro que de surfista
Foto: Reprodução
Roqueiro, tatuado: até o estilo de Matt "Branno" Branson pegar onda é radical
Foto: Reprodução
Surfista radical, visual motoqueiro: Matt "Branno" Branson
Foto: Reprodução
A campeã havaiana Keala Kennely também é ídolo das jovens surfistas, que têm pôsteres dela pendurados no quarto
Foto: Reprodução
A campeã havaiana Keala Kennely
Foto: Reprodução
O mar nunca esteve tão calmo para os surfistas gays
Foto: Reprodução
Thomas conseguiu o que ele procurava: reunir os dois mundos que compõem a sua vida
Foto: Reprodução
O surf e os surfistas gays
Foto: Reprodução
Até quatro anos atrás, os surfistas gays estavam pegando onda misturados à imensa maioria de surfistas "machos", sendo oprimidos por eles ou escondendo a homossexualidade de tudo e de todos. Cada um deles, separadamente, se considerava uma "avis rara" no mar e se fazia a mesma pergunta: "Será que eu sou o único surfista gay do mundo?"
O australiano Thomas Castets era um deles. A cada vez que fazia uma pesquisa na internet combinando as palavras "gay" e "surfista", só encontrava pornô de má qualidade. Webdesigner, decidiu fazer uma página na internet e lançou essa pergunta para o mundo: "Tem algum surfista gay por aí?" O primeiro a responder foi o ex-campeão estadual de surfe David Wakefield. Também australiano, da cidade praiana de Byron Bay (772 quilômetros ao norte de Sidney, onde mora Thomas), David seria o primeiro adepto do site GaySurfers.net, que hoje tem 6.000 participantes.
E foram aparecendo outros, dos EUA, da Austrália, França, Espanha. "De repente tinha um cara de Angola, outro do Senegal", conta Thomas no documentário "Out in the Line-Up", de 2014, em que ele viaja o mundo entrevistando surfistas gays. "Encontrei todas essas pessoas que tinham a mesma história que eu."
Thomas começou a influenciar e reunir tanta gente que, muito mais do que um site para aproximar surfistas que queriam pertencer a um grupo e ter companhia para surfar, o GaySurfers se transformou numa missão social. "Estávamos tendo um impacto global", diz ele. Em busca de visibilidade, Thomas sugeriu reunir uma turma para desfilar na parada gay de Sidney para representar a classe. E assim foi.
David, que até então não tinha se assumido publicamente, deu entrevista para a TV e apareceu na primeira página do jornal "Morning Herald". E então o cara tranquilo da cidade de Byron, que tinha dois empregos, tocava piano na igreja e surfava com os mesmos amigos (heteros) de sempre, decidiu largar tudo e viajar pelo mundo para surfar. Foi primeiro para o Havaí, depois encontrou Thomas em San Diego, na Califórnia, depois foi para o México, onde surfou com Jesse Jimenez, de quem viria a ficar muito amigo, e esteve com Cori Schumacher, a primeira campeã mundial gay de surfe, em Carlsbad, na Califórnia. Tirada do armário por uma matéria de capa do caderno de esportes do "New York Times", ela passou por todo tipo de conflito entre o esporte em que ela era a melhor do mundo e sua sexualidade. Depois de ganhar o segundo campeonato mundial, se afastou do esporte por 7 anos para explorar a sua sexualidade longe dos holofotes.
O documentário, um filme bem conduzido que mistura road movie com filme de surfe e depoimentos contundentes, nos apresenta uma série de histórias e de pessoas incríveis. (Conheça alguns personagens do filme na galeria acima). Um que vale destaque é Matt "Branno" Branson, ex-surfista profissional tatuado, roqueiro, cabeludo, com visual mais para motoqueiro do que para surfista, amigo do Igor, do "Sepultura", que saiu do armário porque não suportava mais guardar o segredo. Foi uma atitude ousada, que poderia ter destruído tudo de uma vez: sua carreira, os patrocínios, sua imagem.
Outra que também fez muito pela causa foi a havaiana Keala Kennely. Ela começou competindo com os meninos e tentando namorar um deles, porque, por mais que sentisse uma força magnética que a atraía para as mulheres, queria ser hetero porque sabia que era isso o que esperavam dela. "Eu já sabia que era gay, mas estava me esforçando para ser o que eles queriam", diz ela. "Era uma tortura."
Ela também foi expulsa do armário por um jornalista, desta vez Matt George, da revista Surfer Magazine, que escreveu o artigo "A história que nenhum homem quer ouvir". Ela virou musa das surfistas jovens, aquela de quem as meninas penduravam pôsteres na parede.
