Ana Ribeiro
As redes sociais se tornaram grande aliada dos gays na luta por seus direitos. Agredidos no restaurante Sukiya, Gabriel Cruz e Jonathan Favari receberam apoio do Brasil inteiro e de foraO ator Gabriel Cruz, 23 anos, e o professor Jonathan Favari, 24, foram vítimas de violência física na madrugada deste domingo (3) no restaurante Sukiya, na rua Augusta.
Gabriel escreveu um grande post em seu perfil no Facebook relatando o ocorrido. O texto conta em detalhes que no restaurante eles foram agredidos, na delegacia onde fizeram o B.O. (78 DP, na rua Estados Unidos) tratados com machismo e despreparo. "...nos deparamos com um aparato policial despreparado, machista e desrespeitoso, o que aumenta ainda mais a sensação de impotência ...durante as cinco horas em que esperamos e esperamos, os policiais e escrivão tentavam insistentemente nos dissuadir da ideia de requerer um inquérito. 'É mais fácil vocês chegarem a um acordo com o cara, tem dois flagrantes na frente e vocês só vão sair daqui amanhã à noite. Então é mais fácil vocês fazerem um acordo e voltarem pra curtir a noite, ainda dá tempo....'", escreveu Gabriel.
Seu post foi lido por milhares de pessoas, compartilhado por outros tantos. Uma pessoa que Gabriel não conhece está organizando uma manifestação na frente do restaurante nesta quinta-feira (7) e o evento já tem 1.200 pessoas confirmadas. "A repercussão foi imensa, chegou a cantos do Brasil e do mundo que eu nem imaginava", diz ele, contando que recebeu apoio de brasileiros morando na Alemanha, na França e no Japão. "Isso dá uma sensação de que não estamos sozinhos, é a voz de uma comunidade inteira que merece atenção. Não tenho nada a ver com a manifestação, ela surgiu de maneira espontânea. Eu e Jow fomos aconselhados a não ter participação direta no evento porque isso pode ser negativo na hora do processo."
O conselho partiu do advogado especializado em causas LGBT que eles consultaram, mas o impulso de mostrar a cara e expor a situação foi uma atitude natural de Gabriel. "Achei que era um dever cívico como homem gay. Baseado na minha formação política e social, considero que é um dever social assumir (a homossexualidade), ter coragem de mostrar o rosto. Me expor dessa maneira pode ser benéfico, as pessoas não têm motivo para se esconder."
PERSEGUIÇÃO NA ESCOLA
Não é a primeira vez que Gabriel é vítima de preconceito e despreparo das autoridades. Aos 16 anos, ele tinha um namorado que frequentava a mesma escola que ele, a Integral São João, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. "A gente era super discreto na escola. Morávamos numa cidade do interior e não nos permitíamos demontrações de afeto", conta. "Assim mesmo, um dia a diretora nos trancou na sala dela dizendo que o segurança tinha nos visto entrando no banheiro e permanecendo lá por horas, insinuando que tínhamos praticado um ato de atentado ao pudor na escola. Nós nem sequer tínhamos entrado no banheiro juntos, ela se baseou numa informação mentirosa para nos acusar. Ameaçou contar para a minha família, o que naquele momento teria sido bem complicado. Mais tarde eu conversei com minha família e eles me deram o maior apoio."
A diferença é que agora, no evento do restaurante Suriya, Gabriel tem mais força e mais armas para lutar contra a discriminação. "Eu e Jow ficamos muito alarmados e assustados, só agora estamos conseguindo pensar melhor. Mas o medo não é suficiente para me desmotivar, de certa forma dá mais vontade de seguir em frente. Estamos unidos, temos mecanismso de defesa e tudo encaminha para ficar bem. Denunciar e não se omitir pode ser um processo doloroso, mas mais dolorosa é a agressão que as pessoas seguem sofrendo."
Segundo Gabriel, Jonathan está com o olho roxo e ainda tem microsangramentos no nariz.
O restaurante divulgou, na tarde de terça (5), uma nota de esclarecimento oficial:
