Gustavo Abreu
Com Mark Ruffalo, Matt Bomer e Julia Roberts, novo filme do canal HBO narra a trajetória de um grupo de ativistas que enfrentou o preconceito e a injustiça em uma época em que a doença não tinha nome e era conhecida como “câncer gay”“Por que eles estão nos deixando morrer?” Essa é a pergunta que paira sobre o comovente “The Normal Heart”, novo filme do canal HBO marcado para estrear no Brasil no dia 31 de maio. Feito exclusivamente para a TV, com Mark Ruffalo, Matt Bomer e Julia Roberts, o longa narra a trajetória de um grupo de ativistas homossexuais que lutou no início dos anos 1980 contra o preconceito, naquela época de pânico e incerteza em que “aids” era palavrão e a mídia e a sociedade se referiam à doença como “câncer gay”.
‘The Normal Heart’ se passa no início da epidemia de aids. Mark Rufallo e Matt Bomer estrelam o filme da HBO
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Ned Weeks, papel Rufallo, é um dramaturgo que inicia uma batalha para que o governo dos EUA reconheça e trate da epidemia
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Assim como Ned, o investidor Bruce Niles (Taylor Kitsh) é um ativista gay que luta contra a epidemia
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Mas enquanto Bruce se mostra mais ponderado e político, Ned é incendiário e agressivo em seu ativismo
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Paralelamente a sua luta, Ned se apaixona pelo jornalista Felix Turner (Matt Bomer)
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O drama no filme se acentua quando Felix é diagnosticado como soropositivo
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Bruce acaba perdendo o namorado para a aids
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‘The Normal Heart’ não faz concessões ao mostrar a dor causada pela epidemia
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Julia Roberts vive a médica Emma Brookner, que trata as primeiras vítima do HIV
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No papel de Tommy Boatwright, Jim Parsons interpreta um ativista gay
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Dirigido por Ryan Murphy (de “Glee”, “The New Normal” e “Comer, Rezar, Amar”) e adaptado da peça de 1985 escrita por Larry Kramer, “The Normal Heart” é, sobretudo, um filme sobre injustiça, já que nos anos iniciais da epidemia, os homens gays eram o maior grupo infectado pelo HIV -- e, veja bem, em uma época pré-Madonna quando se assumir gay estava fora de questão, a menos que você morasse em uma grande metrópole, e olhe lá.
1977-2014: A AIDS, DE SENTENÇA DE MORTE A DOENÇA TRATÁVEL
Com Mark Ruffalo ("Os Vingadores") no papel do escritor Ned Weeks, o longa começa no ano de 1981, em uma Nova York pós-revolução sexual, no auge da cena gay efervescendo nas discotecas de Greenwich Village. Ao lado do amigo Bruce (Taylor Kitsch, de “John Carter”), Ned faz uma viagem a Fire Island, ilha famosa por atrair o público gay, e lá presenciam a primeira crise de Craig (Jonathan Groff, de “Looking”), que passa mal e quase desmaia na praia.
Depois desse episódio, é uma questão de meses até que as primeiras mortes aconteçam e muito pouco, ou quase nada, se sabe sobre a doença. Ninguém tem ideia de como é contraída, como deve ser tratada, ou mesmo qual a procedência, se viral ou bacteriana. Os amigos vão aos poucos definhando e o sentimento é de impotência. Os jornais são arredios ao falar sobre o assunto, e falam apenas de uma nova crise entre os homossexuais, chamada de “câncer gay”.
Na sala de seu apartamento, Ned e Bruce fundam a organização Gay Men's Health Crisis, para tratar de assuntos sobre a saúde de homens gays. Não reconhecidos pela prefeitura de Nova York, eles contam com doações e eventos beneficentes para fomentar uma central de atendimento e apoiar estudos sobre a doença, como a pesquisa desenvolvida pela médica Emma Brookner, papel pequeno porém necessário da ganhadora do Oscar Julia Roberts.
Ned também vai atrás da imprensa e acaba conhecendo o bonitão Felix Turner, repórter do "The New York Times", interpretado por Matt Bomer (“White Collar”), em uma performance simplesmente comovente e digna de um Globo de Ouro. Os personagens se apaixonam e passam a morar juntos, porém Felix descobre também ter a doença.
Apesar da rápida propagação dos casos a cada semana, Ned é ignorado pelo governo norte-americano, que ficou em silêncio sobre o assunto. Ele passa o tempo todo tentando chamar a atenção do prefeito de Nova York, mas ele se recusa a encontrar o grupo -- segundo eles, porque o próprio era enrustido e não podia apoiar os gays para não prejudicar sua imagem pública. “Quem é louco de falar sobre política gay?”, ironiza Ned logo nos minutos iniciais do filme. Os personagens consideram até que a doença tenha sido uma armação da CIA para acabar com a comunidade gay.
Emmy no horizonte para o elenco
“The Normal Heart” é contado de modo grosseiro, e é um pouco longo demais. O filme não tem muitas amarras, mas em compensação tem passagens devastadoras, como a cena em que Bruce é obrigado a pagar 50 dólares a um enfermeiro para que ele despache o corpo de seu namorado em um saco de lixo, pois o hospital se recusou a tomar conta do morto.
Talvez o filme não se saia tão bem nas premiações, como aconteceu com "Behind The Candelabra", também da HBO, mas com certeza vai garantir uma porção de indicações ao Emmy, em setembro, principalmente nas categorias de elenco.
Carregando um pouco do texto original, feito para o teatro, o filme tem uma porção de monólogos bem fortes, com destaque para o discurso do personagem de Jim Parsons (“The Big Bang Theory”) durante o funeral de um amigo. “Eu penso nas peças que não vão ser escritas e nas coreografias que não vão ser dançadas”, ele diz.
Mais de trinta anos separam os acontecimentos da história e o lançamento de “The Normal Heart” na HBO. As condições de quem contraiu o vírus HIV nos últimos anos já não são miseráveis e todo mundo sabe que é completamente possível ter uma vida tranquila sendo soropositivo. Mas mesmo assim é importante que todos assistam a “The Normal Heart”, para conhecer essa história recente de um grupo bravo e corajoso que lutou pela comunidade gay, cujos direitos ainda estão longe de ser alcançados.
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