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Fê Maidel comanda a coluna "O T da Questão" no iGay e fala sobre transição de gênero e os T que estão envolvido nesta letra da sigla LGBT'Então%2C você é trans... O que você vai fazer com isso'. A vida nunca mais foi a mesma depois dessa frase
Foto: Fe Maidel
Um dia me falaram: “Então, você é trans ... o que você vai fazer com isso? ” e a minha vida nunca mais foi a mesma. As palavras, na verdade, não foram exatamente estas, em lugar de “Trans” usaram “crossdresser”, mas, de qualquer forma, a ideia era essa: eu era trans ... e eu, definitivamente, não sabia o que fazer com isso.
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O que é Crossdresser?
O Crossdressing, dentre as várias possibilidades sob o guarda-chuva trans, designa pessoas que se vestem e se comportam, quando vestidas, com trejeitos e maneiras correspondentes ao sexo oposto. Eu defino Crossdressing, além de vestir-se (dress) de forma cruzada (cross), como um “ir e vir” oscilando entre maneiras distintas de se expressar, adotando ora as expressões rotuladas como “masculinas”, ora “femininas”. O crossdressing, mais que as outras formas de expressão trans, carrega em si a intermitência e o desejo de expressar mais formas de ser do que aquelas contidas nas caixinhas de gênero.
As pessoas, ao manifestarem sua individualidade, têm percebido que diferem umas das outras e uma das questões marcantes que surgem são gênero e sexualidade. Diferentemente do passado, as pessoas hoje querem se conhecer, explorar, trocar experiências, e passaram a criticar os rótulos impostos pela “normalidade”. O crossdressing expressa bem essa crítica, onde há a possibilidade da ambivalência.
Travestis e transexuais e crossdressers: diferenças na percepção de si
Há, em essência, diferenças na percepção de si entre travestis, transexuais e crossdressers, quanto ao gênero e sexualidade. Crossdressers se apresentarem como hétero, homo, bi ou assexuadas e, em sua maioria, manifestam pouco ou nenhum desejo de modificarem seus corpos. Cris Camps, diretora do BCC (Braziliam Crossdressing Club), associação virtual que, há vinte anos, congrega pessoas adeptas do crossdressing, ressalta que “sabe-se do grande desejo de alguns quererem adquirir características secundárias do sexo oposto, como seios ou barba, presumindo-se, nesses casos, tratar-se do início de uma transição para a transexualidade ”.
Diferentemente das travestis e transexuais M2F (male to female = masculino para feminino), pessoalmente acho pouco provável que uma pessoa que se defina como crossdressers se disponha a modificar seu corpo, como colocar silicone ou modificar seu órgão sexual, sem que tenha assumido uma constância de gênero maior. Mas nada é determinado e tudo é passível de ser construído, como tudo o que engloba este assunto. Acredito que esta seja uma forma ímpar de expressão transgênera.
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É preciso ressaltar, de qualquer forma, que questões que envolvam medicação ou procedimentos invasivos devem ser acompanhadas por médicos especializados. No caso de processos de terapia hormonal, antes de qualquer ação, indico a urgência em consultar um endócrino de confiança, e caso haja necessidade, de realizar acompanhamento psiquiátrico pois, ao se propor a realizar mudanças tão profundas, a pessoa pode gerar instabilidades enormes em seu equilíbrio e é necessário avaliar e acompanhar, com grande cuidado, cada passo.
A expressão da diversidade é uma importante faceta de nossa sociedade atual e entender a demanda de cada pessoa, explorar o seu significado e os sentimentos que cada um nutre a respeito, bem como a profundidade de cada indivíduo, deve ser a base do acolhimento que essas pessoas recebem. Pelo fato de cada pessoa ter sua demanda individual, todos são únicos e trazem sua necessidade única. Quem tem a questão trans como demanda principal precisa de interlocutores que tenham explorado o tema em profundidade, precisa de uma atuação sensível e não necessariamente relacionada exclusivamente à temática trans.
Retomando o início de meu texto, a vida nunca mais foi a mesma. As palavras, a ideia e tudo o que definitivamente pensei, passei e vivi desde que ouvi o que me disseram, me trouxe até aqui e me fez saber um pouco mais o que fazer com isso. Para saber sobre o mundo trans e outros assuntos, clique aqui e acompanhe Fe Maidel na coluna "O T da Questão".