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Fê Maidel comanda coluna "O T da Questão" e fala sobre transição de gênero, busca pelo que se é neste mundo e sentimentos que envolvem o tema'Nenhum direito a menos' à diversidade%2C desde Stonewall%2C era assim que deveria ser
Foto: Fe Maidel
Encontrar pessoas com quem podemos discutir e ampliar nossa visão sobre temas ligados à diversidade sempre é muito bom e prazeroso. Há alguns anos, entrevistei Marcia Rocha para um trabalho de minha graduação e falamos sobre como foi seu processo de transição; com Dodi Leal vivenciei a sua “Teatra da Oprimida”; Draga da Quebrada me presenteou com alguns vídeos de suas performances e Lua Lucas conversou comigo sobre sua trajetória artística desde o início de sua transição. Laerte Coutinho e Leticia Lanz, em colóquio sobre saúde e envelhecimento, foram muito gentis em permitir que eu pudesse citá-las em minha coluna. Estes serão temas dos próximos posts. Aqui trago uma pequena, mas importante parte da conversa que tive com Alex Bonotto, ativista intersexo, sobre algo que chamou nossa atenção e, creio, vale a pena nos debruçarmos.
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Conversamos sobre o sentido de celebramos o orgulho LGBTQIA, que é lembrarmos da origem dos movimentos que buscam dignidade aos indivíduos desviantes da norma estabelecida, seja pelos seus corpos como pelo seu comportamento. Sobre como as pessoas em Stonewall, em 1969, decidiram revidar a violência motivada pela intolerância, estabelecendo um lugar simbólico, o momento em que se decidiu “nenhum direito a menos” à diversidade.
Percebemos que, na mesma velocidade em que se multiplicam os coletivos representativos de minorias, surgem também organizações interessadas em instrumentalizar o discurso de empoderamento dessas minorias. Testemunhamos, em diversos episódios nesse mês da diversidade que passou, marcas e organizações, inclusive empresas reconhecidamente conservadoras, se apropriarem das pautas de gênero e sexualidade em voga nesse momento, tentando abocanhar o seu quinhão de “Pink Money” (ou dinheiro rosa), termo que descreve o poder econômico LGBT e visto como força positiva desta comunidade, pois cria uma espécie de "auto-identificação financeira" que ajuda a comunidade a se sentir parte de um todo maior que a valoriza. Há estudos que mostram que mais de 90% dos homossexuais afirmam apoiar as empresas que têm como alvo o “pink”, como forma de fugir das empresas "anti-gay". Vimos a importância de identificar os interesses econômicos que os temas sobre os quais, tanto as pessoas que citamos no início e nós falamos aqui, tem atraído a atenção de vários entes econômicos e de comunicação.
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De fato, passou-se a debater certas pautas, o que, por si, não traria problemática alguma, sendo até proveitoso em favor da comunidade LGBTQIA, em que se produzem programas que falam sobre identidade de gênero e práticas afetivas e sexuais diversas, personagens trans são inseridos nas novelas (ainda que sem a devida representatividade que profissionais da comunidade trans) e publicam-se impressos com textos que trazem estes temas. No entanto, vimos também os mesmos agentes trazerem programas que escarnecem das pessoas LGBTQIA, verificamos a linha editorial de informes jornalísticos e de conteúdo das emissoras.
É importante entendermos a forma como essas representações são exibidas, como as negociações que viabilizam a apropriação desses materiais são conduzidas e como é mantido o status quo na era da “lacração”: as custas de um ativismo que atua como fábrica de celebridades. A postura “aliada”, agindo como vimos, sequestra os temas ligados à diversidade, esvaziando seus sentidos. Para saber mais sobre o tema, clique aqui e acompanhe a coluna "O T da Questão" no iGay.