iG São Paulo
Vicente Negrão comanda coluna ARCO e propõe uma conversa sobre arte. Nesta semana, ele convida você a acompanhar como os primeiros e inocentes cliques de “amigos próximos” avançaram para a fotografia de sexualidade explícita, criando imagens que se tornaram ícones da cultura gayDesde a sua invenção, lá em mil oitocentos e tralalá (1826), a fotografia já conheceu seu viés homoerótico. Como todas as outras formas de representação, a arte imitou a vida, também neste específico recorte, bem rapidinho.
Leia também: Arte LGBT, isso lá existe?
Fotografia de Alair Gomes%2C Sonatinas%2C Four Feet 6%2C 1970-1980 ( 11%2C5 x 17%2C4 cm)
Foto: Divulgação
No início timidamente, com senhores apenas sentados lado a lado, ou um tanto mais ousadas apresentando marinheiros com seus traseiros à mostra, a fotografia homoerótica desde um bom tempo, faria Joseph Nicéphore Niepce, o inventor da dita cuja, corar as faces.
Os ícones
Nomes do século passado, como o fotógrafo Robert Mapplethorpe (1946-1989), David La Chappelle (1963 - ) ou a dupla Pierre & Gilles, elevaram a fotografia homoerótica ao olimpo das artes com exposições em grande museus e galerias respeitadas pelo mundo, resenhas discorrendo sobre suas qualidades poéticas e crescente mercado consumidor. Não sem causar protestos, polêmicas e escândalos por onde foram e são expostas até hoje.
Mapplethorpe iniciou a construção da ponte sem volta entre arte, pornografia e sadomasoquismo ao fazer imagens diretas de pênis, punhos, chicotes e farto uso da estética leather (assuntos para a coluna do meu colega aqui do iGay, Fausto Fardado ). Ainda assim, sua grande retrospectiva de 2014, no Grand Palais, no Champs-Elysées, confinou, em sala restrita a maiores de 18 anos, suas fotos mais ousadas e explícitas. Por outro lado sua grande repercussão prova que estas fotos, mesmo na era dos selfies, nudes, da hipersexualização e superexposição nas redes sociais, ainda são suficientemente relevantes para sustentar mostras deste porte mundo afora. Esta também passou pela Tate Modern no mesmo ano.
Leia também: Museu da Diversidade Sexual abre a Mostra Diversa 2017 com 17 novos artistas
Até agosto deste ano, Pierre & Gilles estão em cartaz em mostra retrospectiva no Muma – Museu de Arte Moderna André Malraux, na cidade de nascimento de Gilles, nominada Clair-obscur, com mais de 80 obras entre marinheiros, soldados, imagens de estética sacra representando homens que de santos não tem nada e figuras da cultura pop.
Fotografia de Alair Gomes
Foto: Divulgação
Algo semelhante acontece no Brasil, onde o ícone e grande precursor do segmento nestas terras, Alair Gomes (1921 1992), ganhou importante retrospectiva de sua obra na Caixa Cultural, sob curadoria de Eder Chiodetto. Com um olhar extremamente voyerista, o fotógrafo produziu mais de 70 mil negativos poucos conhecidos do grande público e alguns deles expostos nesta grande mostra.
Em contrapartida, posso citar dezenas de outros, como o lindo trabalho de Kevin Truong batizado The Gay Men Project, de caráter homoerótico bastante diluído, mas de uma fofurice explícita ao retratar o cotidiano de gays mundo afora. O moço passou por dezenas de países e já esteve no Brasil em 2013.
Escancarada ou subjetiva a fotografia homoerótica cravou imagens destes e outros gênios no panteão das artes e vem criando representações marcantes na iconografia gay mundial. Se quiser falar comigo estou aqui e adoro uma conversa: vicente@vicentenegrao.com. Para saber mais sobre esse tema, clique aqui e acompanhe a coluna ARCO, de Vicente Negrão , aqui no iGay.