Carina Brito
Em um relacionamento desde 2014, casal homoafetivo comemora o Dia dos Namorados com aceitação da família e fala sobre a importância de se assumirThiago Lopes, de 32 anos, conheceu Erik Coelho, 24, na Internet e eles logo gostaram um do outro. Juntos desde 2014, o casal foi escolhido pelo iGay para a reportagem de Dia dos Namorados por representarem uma conquista: eles são gays assumidos e aceitos e respeitados pelas famílias.
Para muitos, independente da identidade de gênero, se assumir para a família é algo necessário e ter uma resposta positiva é motivo de comemoração para o casal. “A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi ter sido aceito pela minha família. Não só pelo meus pais, mas também pelos meus tios. Ter sido acolhido é algo que não tem preço”, afirma Erik.
Felizes e juntos em mais um Dia dos Namorados, Thiago e Erik dão detalhes de como se assumiram pela família e encorajam os familiares a aceitarem as diferenças. "Qualquer pessoa que é homossexual deseja ter a aceitação dentro de casa", comenta Erik.
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Do virtual para o real
A história de amor começou quando eles se conheceram em um site de relacionamento. Mas Thiago, de São Paulo, e Erik, da Paraíba, perceberam que a distância seria um grande problema se eles fossem ter um relacionamento amoroso. Mesmo sabendo das dificuldades, Thiago decidiu tomar a iniciativa de viajar para ver Erik pessoalmente e os dois sentiram a necessidade de ser um casal. Pouco tempo depois, Erik decidiu se mudar para São Paulo e começar uma vida nova ao lado de seu amado. “Basicamente estamos casados e morando juntos há mais de dois anos”, conta Thiago.
O casal está junto desde 2014
Foto: Arquivo pessoal
O processo de se assumir
Thiago nunca se importou em ter que contar para as pessoas que ele era homossexual. “Quando você se assume, é para você”, ele afirma. “Estava tranquilo e não tive necessidade de contar isso pra minha família”.
Mas tudo mudou quando Thiago tinha 27 anos e se apaixonou pelo seu primeiro namorado gay. Ele decidiu contar para a mãe que estava envolvido com um homem e a recepção dela foi a melhor possível. “Ela comemorou eu ter me assumido porque ela disse que sabia que eu era gay desde quando eu era criança”, conta Thiago. “Ela disse que tinha ficado preocupada comigo quando eu namorava uma mulher, mas que estava mais tranquila porque sabia que eu estava feliz sendo quem eu sou”.
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Thiago nunca contou sobre sua sexualidade para o resto da família, mas todos sabem que ele é gay e ninguém o questiona sobre o assunto. Outros primos até tiveram coragem de assumir a homossexualidade depois de verem como Thiago lidava bem com a questão.
Apesar de ter tido uma boa recepção ao contar a verdade sobre ele, Thiago sabe que isso não é a realidade de todas as pessoas que precisam se assumir. “Eu tenho amigos transgêneros que passam por uma situação muito ruim quando eles vão contar para a família. Quando você é trans, não tem como esconder isso”, ele conta. “Eu sempre incentivo meus amigos a se entenderem em primeiro lugar. Entender se você é homossexual, bissexual, trans ou outra coisa. É preciso ter confiança no que você é”.
A questão da religião
No caso de Erik, namorado de Thiago, a questão com a família era um pouco mais complicada, já que ele foi criado em um ambiente bastante religioso em que os dogmas da Igreja eram fielmente seguidos. “Foi bem difícil no começo porque a homossexualidade era tratada como um pecado”, afirma Erik. “Quando eu me assumi para os meus pais, eles começaram a questionar muitas coisas sobre os ensinamentos religiosos”.
“Eu sempre fui gay, desde que me conheço por gente. Eles perceberam que não era uma doença nem uma escolha”, conta Erik. De acordo com ele, seus pais não entendiam como um filho poderia “ir para o inferno” por algo que ele não decidiu ser. “Meus pais começaram a questionar se aquilo que eles pregavam era real”. A mudança em sua família foi tão drástica que os pais até viraram ateus.
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Erik, entretanto, reconhece que nem sempre é isso o que acontece. "Fico muito triste quando vejo pessoas não sendo aceitas dentro de casa porque independentemente da orientação sexual, o caráter continua o mesmo”.
No caso dele, os pais mudaram alguns conceitos e ele foi muito bem acolhido. A aceitação foi tão grande que o casal foi para Campina Grande, na Paraíba, e ficou hospedado na casa dos pais de Erik. “Agora eles gostam mais do Thiago do que de mim”, brinca.